As viagens de elevador podem oferecer uma experiência inspiradora, mas mesmo sendo indispensáveis nos edifícios modernos, os usuários enfrentam espaços extremamente compactos, os quais são projetados para se adequarem apenas aos edifícios. Os estranhos olhares para o chão ou para o rosto de outras pessoas revelam nosso desconforto com a multidão anonima dos elevadores. Não seria possível uma experiência espacial mais emocionante? As telas e projeções estão começando a ser utilizadas em elevadores, mas representam apenas o início de uma revolução na atmosfera criada durante o transporte vertical.
Enquanto as estruturas e fachadas dos arranha-céus se transformaram significativamente desde o seu surgimento, o design das cabines não se desenvolveu de forma semelhante. Impecáveis cabines de aço inoxidável e sua luz difusa, muitas vezes, criam um carácter estéril durante o deslocamento vertical. Mesmo os elevadores em edifícios de luxo, decoradas com superfícies elegantes, comumente não conseguem criar um atrativo gesto de boas-vindas para os visitantes, especialmente em comparação com a diversidade impressionante do design das escadas.
Nos edifícios onde a entrada geralmente e dá através de uma garagem subterrânea, a primeira impressão que você têm de um edifício após passar pelas portas de incêndio é, geralmente, do elevador. No entanto, esta experiência espacial quase sempre carece de sentindo. Devido ao fato de que a maioria dos elevadores estão fechados em shafts, e as paredes da cabine geralmente são instaladas com materiais opacos, a percepção visual do movimento é limitada apenas à mudança dos números de pavimentos.
O primeiro passo com a finalidade de romper com esta compactação da cabine, poderia ser abrindo visualmente o teto. Um primeiro exemplo foi apresentado pelo engenheiro André Waterkeyn e pelos arquitetos André e Jean Polak para o Atomium em Bruxelas, durante a Feira Mundial de 1958, na Bélgica. Eles envidraçaram o teto da cabine do elevador e instalaram luminárias nas suas bordas, direcionando a luz para cima. Com isso, permitiram que os visitantes da Expo visualizassem seu deslocamento para cima através do shaft do elevador iluminado. Em contraste com a perspectiva sem graça que é oferecida pela maioria dos elevadores, este passeio se beneficia visualmente de sua exclusiva estrutura de aço hexagonal combinada com os tubos e instalações aparantes.
Para transformar as paredes monótonas habituais dos shafts em narrativas visuais estimulantes, o designer de Nova York ScottVanderVoort fez experimentos com design gráfico e graffiti. Uma parede de vidro na cabine e um sistema oculto para iluminação, concedem aos passageiros uma visão bastante clara da parede do shaft.
Para uma atmosfera mais vibrante, os designers começaram a instalar luminárias nas paredes dos shafts dos elevadores e estabeleceram uma sensação de movimento vertical através dos pavimentos de um edifício utilizando padrões gráficos. Um teto luminoso no topo do shaft transforma o passeio em uma ascensão espetacular em direção a luz. Desta forma, o shaft preto e claustrofóbico pode ser convertido em um espaço iluminado inspirador. Artistas que trabalham com a luz, como Olafur Eliasson com seu "Weather Project" na Tate Modern ou James Turrell com seus Sky Spaces, nos concederam uma sensação impressionante do quão poderosos, espaços cheios de luz podem transformar a nossa percepção e sentimentos. A torre A'DAM em Amsterdã acelerou a sensação de movimento vertical com uma cenografia extravagante projetada e fornecida pela InventDesign. As linhas dinâmicas de luz e as mudanças de cor no shaft do elevador evocam a sensação de um passeio espacial futurista.
Ainda assim, esses padrões abstratos de luz se mostram de baixa resolução em comparação com a alta definição das telas de televisão que nos cercam atualmente. O Rockefeller Center, em Nova York, criou um acesso de elevador para o deck de observação, o qual combina uma iluminação colorida do shaft com projeções de texto para comunicação visual, projetado por Bob Weis Design Island em 2005. Ao entrar no elevador tudo parece normal: as paredes da cabine são escuras, o teto é branco e retroiluminado. Mas assim que o passeio começa, a cabine se transforma: os painéis do teto revelam o shaft do elevador, que por sua vez se transforma em um enorme túnel colorido. As luminárias de LED azul nos cantos do shaft identificam os diferentes pavimentos. À medida que estes são superados, eles comunicam a escala, a dimensão do espaço e a sensação de velocidade de forma mais intensa.
Extrapolar os limites das experiências espaciais, exige que os designers promovam uma mudança de perspectiva para os elevadores, incluindo realidade virtual em alta definição ou até mesmo as próprias paredes como telas para animações diversas. Envolver os passageiros com vídeos em alta definição, os quais estão conectados ao movimento vertical, pode ampliar os seus horizontes. Esta narrativa inteligente vem à tona para transformar a viagem local em uma experiência única. No momento, Nova York oferece o que há de mais avançado no que se refere a novas experiências deste tipo de viagem com o Empire State Building e o One World Trade Center competindo pelo passeio mais interessante.
A subida no Empire State Building, projetada pela Imaginary Forces em 2016, resume a narrativa em uma tela de alta resolução instalada no teto. Esta reproduz uma animação da construção do arranha-céu. O diálogo entre os trabalhadores e o riscos no manejo das vigas voadoras, conferem ao processo de construção uma atmosfera mais humana. Em contraste, o sentimento da descida se revela mais abstrato. Ele deixa a construção para trás, começando com os detalhes art deco do lobby e terminando com um mapa de Manhattan e a fachada do Empire State Building. Embora o filme crie uma intensa imagem de verticalidade, os olhos dos passageiros estão voltados apenas para o topo da cabine. O One World Trade Center em Lower Manhattan ultrapassou essa ideia de elevador unidimensional e converteu as paredes fechadas da cabine em um ambiente virtual imersivo.
No One World Trade Center, enquanto se deslocam para cima, ao longo de sessenta segundos, os visitantes podem virtualmente olhar através das "janelas" para observar um time-lapse de 500 anos da evolução da cidade de Nova York. A cabine cria a impressão mágica de que se está andando em um elevador com paredes de vidro. Movendo-se para cima, os turistas viajam em direção ao presente, culminando na construção em aço do novo One World Trade Center. O passeio dá a impressão de que o arranha-céus apenas está sendo concluído, fechando justamente o shaft do elevador antes de deixá-los sair.
A descida oferece uma experiência espacial diferente. A cabine de vidro parece flutuar para baixo, circulando ao redor do edifício antes de entrar nele através de um ponto aberto na fachada - embora evite cuidadosamente a imagem de que possa se chocar com a torre . A magia da máquina do tempo cinematográfico, projetada pelo Hettema Group e Blur Studio, reside na surpreendente transformação do movimento vertical em um caminho tridimensional com o deslumbrante percurso em torno ao edifício.
O futuro das viagens de elevador definitivamente nos trará deslumbrantes painéis paramétricos. Eles substituirão as paredes do shaft com padrões complexos de luz e sombra. Os esquemas de cores adicionarão uma camada adicional ao entretenimento visual - seja como superfícies coloridas ou em combinações dinâmicas de luz. O outro caminho para experiências imersivas em elevadores, será originada a partir da realidade virtual. As paredes, o piso e o teto serão parte integrante destas viagens verticais. A cabine do elevador irá levá-lo para uma nova dimensão, combinando percepção, realidade, ilusão e realidade aumentada.
Light matters, uma coluna mensal sobre luz e espaço, é escrita pelo Dr. Thomas Schielke. Ele reside na Alemanha, é fascinado por iluminação na arquitetura e trabalha como um editor para a empresa de iluminação ERCO. Já publicou vários artigos e é co-autor dos livros "Light Perspectives" e "SuperLux". Para mais informações confira www.erco.com, www.arclighting.de ou siga-o em @arcspaces.